Psicoterapia familiar
Objetivos
Por intermédio da psicoterapia familiar, refletimos e discutimos os modelos de interação entre os membros familiares, assim como aspectos individuais e coletivos, com o intuito de melhorar seu funcionamento como unidade e/ou lidar com focos conflitivos entre seus subsistemas, que afetam a todos. Espera-se, em síntese, obter algum tipo de mudança positiva no funcionamento das relações ou de um ou mais indivíduos específicos que compõem a unidade familiar.
Percebe-se, na prática clínica, a necessidade das famílias pensarem, de fato, sobre sua própria realidade. Ao invés da simples troca de acusações, espera-se, por exemplo, que os familiares passem a refletir sobre o que cada um pode fazer para melhorar a relação familiar. No entanto, pode-se identificar que nem sempre existe uma identidade familiar constituída. Dessa forma, seus membros não se diferenciam e podem apresentar dificuldade para redefinir seus papéis, principalmente após a família sofrer diversas reconfigurações, algo muito comum nas sociedades contemporâneas.
Com a psicoterapia, espera-se dar voz à família (que carece da expressão de ideias e sentimentos), com o intuito de ajudá-la a estabelecer uma melhor comunicação. Promove-se, assim, um encontro entre os membros que, antes, apenas se uniam fisicamente. Isto facilita a construção de uma melhor, mais congruente ou mais consistente identidade familiar. Mas, para isso, é necessário que cada integrante reconheça a existência de um problema e a falta de recursos para lidar com aquela situação. Importante lembrar que só pelo fato de contar os acontecimentos para o terapeuta, talvez a família já comece a reorganizar e a reconstruir sua própria história.
Espera-se que os participantes absorvam algo dos atendimentos. Porém, nem sempre o trabalho terapêutico traz repercussões, visto que é necessário consciência do problema e recursos para mudar. Difícil, entretanto, é saber o que o sujeito espera dele mesmo (e de seus familiares) e como se percebe enquanto membro pertencente àquela família.
Quando uma família deve procurar ajuda?
Quando um objetivo coletivo (familiar) não é alcançado, quando há desacordos, conflitos e/ou agressões persistentes no relacionamento familiar, quando a família não consegue lidar com algum acontecimento, mágoas, perdas, reconfigurações/mudanças ou problema instaurado ou quando a carga emocional diante de determinados assuntos é muito alta, sofrível e desestruturante são alguns exemplos de quando recorrer ao trabalho de um profissional.
Visão sistêmica
De acordo com a visão sistêmica, a identidade familiar determina como os membros de uma família se colocam a serviço da subsistência (homeostase) do sistema em que se encontram inseridos. Considera os processos e regras existentes naquele espaço, além de compreender a aliança familiar “em relação a” diversos fatores, que transpõem a compreensão do fenômeno por meio de elementos intrínsecos ao ser (seu mundo interno). Relacionamentos disfuncionais podem revelar que um sistema é marcado por muita rigidez e escassez de recursos para sustentar processos de mudanças – o que bloqueia seu desenvolvimento.
A busca de parceiros, de acordo com esse entendimento, é motivada por uma profunda lealdade ou identificação com o meio, que, de algum modo, precisa se manter de acordo com o modelo original estabelecido. Restrito e paralisado em seus papéis, o indivíduo se coloca a serviço de complementaridades, que mantêm a unidade e o equilíbrio do sistema. Por isso, a destituição de um “bode expiatório”, por exemplo, pode ameaçar o sistema, destruir os benefícios dos demais membros e trazer à tona os piores conflitos, que são secretamente compartilhados e estruturados em torno de conflitos, disfunções, medos e incongruências.
Nesse caso, o trabalho do Psicólogo pode ajudar a revelar discursos até então implícitos, incompletos e incongruentes (questões encobertas, marcadas por relações de poder e fantasmáticas, que obscureciam sentimentos e ideias presentes naquele ambiente familiar).
Papel do Psicólogo
O Psicólogo, em síntese, oferece uma escuta qualificada e ajuda cada membro a se dar conta de questões encobertas. Olha a família em seus papéis para poder compreendê-la, por exemplo, nos seguintes aspectos: sentidos subjacentes, sentimentos/expectativas existentes, constituição familiar, padrões de relacionamento estabelecidos, influência da família de origem, papéis invertidos/incompatíveis, padrões mal-adaptativos que são repetidos, o que mantém o relacionamento, como lidam com suas vivências/experiências, se há ou não crítica presente e como os membros enfrentam perdas, frustrações e separações.
Ao interrogar o cliente, o terapeuta tenta identificar limitações, defesas, distorções, escotomas* (presentes no discurso) e a visão de mundo singular (ou perspectiva) do sujeito. Suas perguntas** colocam em ação inúmeros estímulos de mudança, pois exercitam (ampliam) a percepção e reavivam fatos e relações implícitas. Em síntese, pergunta-se para o cliente ouvir-se falar.
Desembaraça-se, assim, a fala emaranhada do cliente e se extrai pontos significativos da mesma, que, em muitos aspectos, pode trazer um relato confuso e sincrético (quando há a unificação de diversas ideias, por vezes, inconciliáveis, antagônicas).
Entre diversos tipos de intervenção verbal do terapeuta, verifica-se, é claro, a importância de também reforçar ações positivas (princípio geral de aprendizagem), uma vez que isso gera autoconfiança e estimula o potencial de crescimento do indivíduo – o que talvez não seja possível ao apenas apontar defeitos e erros. Autoritarismo, repreensões e desigualdade nas relações (embora existam papéis distintos) podem consolidar um vínculo infantil de dependência que tende à inércia e não ao crescimento.
É essencial uma análise minuciosa do discurso, por meio da observação não participante (leia-se não restritiva ou não impeditiva). O clima de equanimidade ou imparcialidade também ajuda a atenuar desníveis presentes na relação terapêutica – o que é próprio, de fato, de qualquer relação madura. O acordo estabelecido precisa estabelecer uma relação de trabalho que traga à luz um conhecimento e ações que se afastem de qualquer condição de dependência infantil (entre uma criança desprotegida e um adulto autoritário, onipotente e onisciente, que apenas emite “verdades”). Caso contrário, o trabalho se torna contraproducente, ou seja, algo que estimula o vínculo regressivo com o terapeuta e, como consequência, engessa e fere ainda mais os mecanismos adaptativos do ser (recursos egoicos).
Em suas intervenções verbais, o profissional interroga, confirma, retifica, assinala, explora, proporciona informação, facilita ab-reação***, clarifica, reformula, repete, sintetiza, interpreta e sugere alternativas (além de um simples convite para novas experiências, há o intuito de promover insights ou consciência de motivos, relações, sentimentos e impulsos inconscientes).
A transição do nível dos fatos para o das significações ocorre pela interpretação, momento em que há a formulação de hipóteses que inserem um raciocínio possível em um território antes marcado por dados soltos, desconexos, ilógicos e contraditórios (em relação à lógica usual). O terapeuta tenta mergulhar nos mecanismos e motivações internas do cliente, além de procurar identificar as características de suas expressões e relações estabelecidas com o meio.
Constata-se, ainda, que a estratégia de recapitular ou sintetizar materiais das sessões, por exemplo, representa um fechamento provisório que funciona como uma espécie de trampolim que facilita (de maneira dialética) o avanço do conhecimento – por intermédio de sínteses progressivas, geradas a partir do choque entre ininterruptas teses e antíteses (oposição por incoerências, desacordos, contestações, objeções e aborrecimentos).
Sabe-se, entretanto, que na prática da psicanálise, por exemplo, detalhes relacionados às situações reais podem, de certa forma, aproximar-se da irrelevância, uma vez que se procura identificar e elaborar (momento de progressão) o modelo de fantasia (inconsciente) vincular latente que se manifesta no relato. A interpretação possui, nestes aspectos, um valor supremo no processo analítico e ocupa o topo da hierarquia dos princípios terapêuticos.
Não se pode descuidar, no entanto, de outros fatores que talvez caracterizem os fenômenos. Entre eles, diversas contradições sociais entre exigências do meio e possibilidades do ser geram, em muitos aspectos, certos desajustes. Mas, em geral, a compreensão dos fenômenos gira em torno de uma leitura estritamente relacionada à dinâmica intrapsíquica do sujeito.
*Termo da Medicina que representa a área, dentro do campo visual, em que a visão está prejudicada, cercada por zona em que a visão é normal ou menos perturbada.
**Suas repercussões também dependem, é claro, da aptidão do sujeito para abstrair e estabelecer relações.
***Em termos psicanalíticos, ab-reação (palavra empregada por Freud, com frequência, como sinônimo de catarse) significa uma descarga emocional mais ou menos intensa caracterizada pela aproximação do indivíduo de seus próprios processos, reações e capacidades mentais. Removem-se obstáculos emocionais e o indivíduo expressa suas ideias e sentimentos reprimidos. Revive, assim, um acontecimento traumático (material reprimido) e se liberta da repressão à qual estava submetido. Isso pode se dar de maneira espontânea ou manifestar-se no curso de certos processos psicoterápicos, por ação deles.
Referência:
SANTOS, R.A. A essência da (in)felicidade: uma análise psicossociológica dos fatores que permeiam a construção e entendimento de um provável conceito de felicidade. São Paulo: Edição do autor, 2010. 162 p.
Ficamos à disposição para maiores esclarecimentos!
Rodrigo Arcanjo dos Santos
Psicólogo – CRP 06/97030
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